Elas não desistiram: histórias de coragem e superação no empreendedorismo feminino
- noticiasmare
- 7 de jun.
- 13 min de leitura
Entre lágrimas e obstáculos, mulheres encontraram forças para reescrever seus destinos e inspirar a perseverança por meio do empreendedorismo
Por Eliana Farias e Sinara Beserra

Quantas mulheres, em silêncio, enfrentam todos os dias batalhas que poucos conseguem enxergar? Sozinhas, elas desafiam um mundo que insiste em duvidar de suas capacidades, mas seguem firmes, decididas em escrever suas próprias histórias, com momentos de superação, medo, e também conquistas, com uma força interior inabalável.
Elas não pedem permissão para sonhar, nem para ocupar o espaço que lhes pertence por direito. Enfrentam, todos os dias, batalhas silenciosas, o peso da dúvida, o medo do fracasso, o cansaço de lutar em um terreno desigual e, mesmo assim, seguem. Mais do que criar negócios, constroem legados, rompem ciclos e mostram que nenhuma barreira é capaz de silenciar sua voz. Cada conquista é um ato de coragem que ressoa na sociedade. Transformaram dor em força, incerteza em determinação, e ocuparam lugares antes negados, com esforço e dignidade.
EMPREENDEDORISMO FEMININO EM ALAGOAS
Em Alagoas, a atuação feminina no campo empreendedor já é realidade. De acordo com a Junta Comercial do Estado de Alagoas (Juceal), o estado conta atualmente com 96.787 empresas comandadas por mulheres. Essa representação feminina é dividida em variadas qualificações, e são vistas nas formas de: empresárias (74.290), sócias (27.594), administradoras de negócios (20.139), representantes (821) e cargos de diretoria (215).
Esse número representa uma crescente de 15,99% no total de empresas chefiadas por mulheres em comparação ao estudo divulgado no ano de 2024. Esse aumento é devido às novas aberturas de empreendimentos e a entrada das mulheres em cargos de empresas já existentes. Mostrando o grande potencial feminino no ramo que tem alavancado a economia do estado de Alagoas.
Os negócios seguem em diversos ramos empregatícios, impulsionados por objetivos, necessidades e sonhos. As mulheres têm criado negócios próprios, que vai desde comércio vestuário, beleza, alimentícios entre outros ramos de estética, gerando autonomia, ao mesmo tempo em que fortalecem a economia local, acarretando em emprego e renda para outras pessoas que são contempladas por essas novas atividades econômicas.

Para ter acesso ao gráfico interativo, clique aqui.
Na capital, Maceió, o avanço é registrado através dos dados. A cidade apresenta mais de 49 mil negócios liderados por mulheres, sendo o município com o maior volume de empresas em todo o estado. É acompanhado de iniciativas que preveem o auxílio às mulheres em seus empreendimentos, como a Feirinha do Quintal, que promove um espaço no bairro do Jaraguá para que mulheres exponham seus produtos, além de oficinas, arte e outras manifestações culturais.
Outra iniciativa que tem como objetivo apoiar a autonomia feminina, é o Banco da Mulher Empreendedora, que é um programa de impulsionamento às mulheres de Maceió. Tem como foco mulheres em situação de vulnerabilidade social ou vítimas de violência doméstica, promovendo a inclusão social. É fornecido apoio financeiro, para que essas realidades sejam transformadas através do início ou fortalecimento dos pequenos negócios.
TRAJETÓRIA FEMININA EM DESTAQUE
Em diferentes áreas, as mulheres têm encontrado no empreendedorismo formas de alcançar a autonomia, que possibilitam a construção de uma vida com melhores condições, utilizando de talentos para a elaboração de novos negócios. Seja na moda, na beleza ou na culinária, cada empreendimento carrega a iniciativa feminina para abertura de novos caminhos. A seguir, três empreendedoras compartilham suas trajetórias no empreendedorismo, compartilhando os obstáculos e as conquistas.
O CAMINHO DA CORAGEM

Em meio aos desafios de ser uma mulher jovem, do interior de Alagoas e universitária com poucos recursos, Kallyne Teixeira encontrou no empreendedorismo uma forma de continuar sonhando. A rotina era exaustiva: acordar cedo, viajar horas por dia para estudar, voltar para casa à noite e, ainda assim, encontrar forças para começar o próprio negócio. Não era por luxo, mas por necessidade: precisava de uma renda que garantisse a sua permanência na universidade.
Sem saber exatamente por onde começar, ela decidiu dar um primeiro passo mesmo com medo. Pediu ajuda a uma amiga, pegou emprestado o valor do primeiro investimento e, com um catálogo de roupas nas mãos, começou a vender para pessoas próximas. Com o tempo, as vendas foram crescendo, o Instagram da loja foi criado e, mais do que roupas, Kallyne começou a entregar cuidado, acolhimento e autoestima.
Hoje, ela é professora, geógrafa, pesquisadora e empreendedora. Concluiu a graduação com o auxílio do próprio negócio e, recentemente, foi aprovada no mestrado, que era um grande sonho. E tudo isso começou por uma escolha simples e corajosa: acreditar em si mesma. É com essa força e verdade que ela compartilha com orgulho a sua história. Os recursos eram escassos, as oportunidades limitadas, mas, no meio das dificuldades, ela enxergou uma alternativa e teve coragem de dar um ponto de partida.
“Eu precisava de uma renda pra continuar estudando. Vinha todos os dias do interior para Maceió de ônibus, e trabalhar com carteira assinada era quase impossível nessa rotina. Foi aí que o empreendedorismo online apareceu como uma luz no fim do túnel. Eu enxerguei uma porta aberta, entrei, e nunca mais parei. Comecei por necessidade, mas continuei por paixão”, relembra Kallyne.
Empreender é também aprender a cair e recomeçar. Em 2022, ela precisou tomar uma decisão difícil: sair de casa, deixar o conforto familiar e se mudar de vez para Maceió. O que parecia uma evolução se tornou uma barreira: a distância afastou clientes fiéis e a logística quase inviabilizou seu negócio. Mas ela não desistiu. Reinventou-se mais uma vez.
“O ano de 2022 foi o mais desafiador. Precisei sair do interior e vir morar em Maceió, e com isso, perdi boa parte da minha clientela. Era difícil mandar pedidos, o frete era mais caro que a encomenda. Mas eu não desisti. Recomecei do zero, conhecendo novas pessoas, divulgando minha loja em cada conversa.” E hoje, graças a essa coragem de recomeçar, ela tem clientes em outros estados, de Sergipe a São Paulo. Ela acredita que recomeçar também é empreender. “Na Donddoka, não se vende apenas roupas. Vende-se carinho, memória e presença”. Para Kallyne, cada embalagem é uma ponte entre ela e a vida das suas clientes. Já houve quem recebesse uma peça e, junto com ela, um novo fôlego de esperança.
“Com certeza vai além. Já vivi momentos em que minha loja foi instrumento de carinho, afeto e até cura. Uma cliente quis presentear uma amiga que havia tentado suicídio. Escolhemos juntas uma estampa que significava coragem. Aquela peça não era só uma blusa; era um abraço. Depois disso, elas floresceram. E é aí que eu entendo: o que eu faço transforma. Minha marca está presente em momentos especiais das pessoas. Isso é o que me move”, completa a professora.
Kallyne reconhece que ser mulher no mundo dos negócios é enfrentar desafios que vão além do financeiro. É lidar com o machismo, com o descrédito e com a invisibilidade. Mas também é uma forma de resistência e transformação. “É lutar duas vezes mais. A gente precisa provar todos os dias que é capaz, que é inteligente, que pode ocupar qualquer espaço. Empreender sendo mulher é também abrir caminho para outras mulheres e dizer: você consegue, eu consegui”.
Ela conta que começou a perceber o impacto da sua marca quando viu que as pessoas não compravam só pela peça, mas pelo que ela transmitia. “Foi quando uma cliente disse que se sentia mais confiante usando uma das minhas roupas. Aquilo me marcou. Era a prova de que meu trabalho não era só sobre estética, mas sobre autoestima, sobre identidade. Ali eu entendi que estava no caminho certo”, destaca Kallyne.
Para quem sonha em empreender, mas ainda trava diante do medo, ela tem um recado direto, mas cheio de consideração, “comece com o que você tem, do jeito que você pode. Ninguém começa grande. Não espere o cenário perfeito, porque ele não existe. Se der medo, vai com medo mesmo. Só não deixa de tentar. Você é mais capaz do que imagina”, finaliza.
MAQUIAGEM COM PROPÓSITO

Desde pequena, Karla Mylena enxergava na maquiagem mais do que um simples gesto de vaidade, ela via mágica. O brilho dos produtos, o poder de transformação das cores e a possibilidade de revelar a autoestima por meio de cada detalhe despertavam nela uma paixão intensa e genuína. O que era um encantamento de infância virou, anos depois, um propósito de vida: transformar sonhos em realidade com as próprias mãos.
Mas o caminho até se tornar uma das maquiadoras mais queridas de sua cidade não foi simples. Ele foi pavimentado com coragem, quedas e recomeços. Como muitas mulheres que decidem empreender, Karla precisou enfrentar medos, incertezas e um mercado competitivo. “No início foi difícil, acredito que como para todo mundo que começa. Na área da beleza, é um pouco mais complicado, porque as pessoas têm receio de confiar no nosso trabalho. Nem todos querem dar oportunidade para quem está começando”, disse a maquiadora.
Para se firmar, ela precisou ir além do talento. Investiu bastante em produtos, cursos, tempo e, principalmente, em si mesma. Produziu conteúdo, maquiou modelos, criou estratégias e buscou despertar o desejo e a confiança no olhar de quem ainda não a conhecia.
Um dos momentos mais marcantes de sua trajetória foi quando decidiu sair do quarto de casa, onde atendia as primeiras clientes, e montar seu próprio estúdio no centro da cidade. “Eu me sentia desconfortável. Queria algo meu, mais profissional”, ela acredita que foi uma virada de chave, e também um risco. Aluguel, móveis novos, climatização. O investimento trouxe um desequilíbrio financeiro que quase a fez recuar. Quase. “Foi um desafio que me deixou mais forte e me fez crescer ainda mais. Fui atrás de conhecimento, fiz parcerias com profissionais de social media da cidade e comecei a atrair uma nova clientela. Com isso, aumentei o faturamento e dei a volta por cima”.
Karla compreende, com lucidez e maturidade, que empreender exige mais do que técnica, requer preparo emocional, espiritual e estratégico. “Empreender não é fácil. Você precisa se preparar mental e espiritualmente. E, no começo, é importante ter outra fonte de renda. O negócio precisa de tempo e investimento para se sustentar”.
Seu diferencial vai além dos pinceis e produtos de qualidade. Está no olhar atencioso, na escuta ativa, no acolhimento sincero. “Fidelizei minhas clientes com o meu carisma e amor. Eu me importo de verdade com cada uma delas. Crio vínculos, laços. Muitas chegam até mim por indicação de outras clientes. As pessoas não me veem só como maquiadora. Me veem como alguém que escuta, acolhe e ama. Isso me emociona. É mais do que maquiar, é cuidar”, reflete.
Ela segue buscando aprimoramento constante. Se inspira em maquiadores renomados, estuda tendências, testa novas técnicas. “Conhecimento e investimento é tudo. A gente precisa se atualizar sempre, acompanhar o que o mercado está oferecendo”. Hoje, Karla se orgulha de viver do próprio sonho, de poder ajudar a família com o fruto do seu trabalho e, acima de tudo, de ter conquistado a liberdade de administrar o próprio tempo. “Isso não tem preço”, ela finaliza.
Ao refletir sobre sua caminhada, a empreendedora reconhece o papel fundamental de sua identidade: “Ser mulher influencia muito. A gente sente mais, percebe mais, cuida mais. Isso me faz empreender com o coração.” E é com o coração que ela deixa uma mensagem para outras mulheres que também sonham em trilhar esse caminho: “Acreditem. Com dedicação, conhecimento e fé, é possível transformar amor em profissão”.
A IDENTIFICAÇÃO COMO CHAVE PARA O NEGÓCIO

As motivações que antecedem a criação de um empreendimento são diversas, desde necessidade até metas e sonhos. Para Giovanna Lyssa, que é designer de interiores por formação, a sua caminhada no empreendedorismo teve início através de uma paixão: os dramas sul coreanos. Ao assistir seu primeiro dorama - assim é chamada a produção audiovisual asiática - ainda em 2021, surgiu um interesse pela cultura do país, que vai desde as músicas, até a língua e a culinária, mesmo que tão distante do litoral alagoano.
“A partir dos dramas, comecei a sentir interesse em experimentar as comidas e produtos que eram consumidos e retratados nas cenas, porém não haviam lojas na cidade. Pensei que mais pessoas poderiam estar assim, e disse ‘porque não ser a ponte entre Maceió e a Coreia?’”, relembra Giovanna. Dessa forma deu-se início a loja Kkumchi, a primeira loja coreana em Maceió. O começo foi difícil, ela relata que abriu o empreendimento sem incentivo externo, com apenas R$ 150 e sem noção de clientela ou público.
“Um dos maiores desafios foi conseguir captar e fidelizar nossos clientes. Participamos incansavelmente de eventos presenciais e investimos no ‘boca a boca’. Tive que abrir mão de pagamentos, salários, conforto, para continuar investindo na loja”, disse a empreendedora. Apesar das dificuldades, hoje ela já pode visualizar os avanços da sua loja, graças a entrega de serviços e produtos de qualidade, estando sempre presente no seu próprio negócio e valorizando os feedbacks dos clientes.
Além da culinária, Lyssa reconhece que com sua loja, é promovido um sentimento de comunidade por parte dos clientes, que se tornam amigos - ou chingus, do idioma coreano -, pois, ao apreciar a cultura coreana, o consumidor encontra, além de entretenimento, o conforto nos momentos difíceis e identificação com as produções. “Eu entendo que o impacto do meu trabalho não é só promover uma comida, mas estou lidando com os sonhos de uma pessoa, o sonho de conhecer a Coreia do Sul, ou o sonho de se sentir mais próxima de alguém que ela atribui um significado para um momento muito difícil da vida. É muito especial entender essa relação que as pessoas têm com a cultura coreana e em como o meu trabalho é ser uma ponte entre elas”, conclui.
O sentimento de realização ao promover esse contato entre as pessoas e a culinária coreana é permeado pelos desafios da vida real, sobretudo os desafios de ser uma mulher empreendedora. Giovanna conta que já enfrentou situações delicadas e reconhece que o tratamento dado a homens e mulheres nesse ramo é bem diferente, “sempre procuro estar bem apresentável quando vou a eventos pois entendo que sou o rosto da minha loja, mas tive uma experiência em um evento recente, onde outra mulher se aproximou e teceu comentários sobre minha aparência, dizendo que devemos abrir mão de certas coisas, até andar desarrumada para investir na nossa loja. Isso me fez refletir, ‘se fosse um homem, ele receberia o mesmo comentário?’”, indagou Lyssa.
Ela acredita que a jornada de uma mulher empreendedora se torna mais longa, com mais obstáculos a serem vencidos, como a questão da segurança, já que no seu caso muitas vezes precisa estar em lugares sozinha para vender os seus produtos e pode ser abordada de forma inadequada. “Já presenciei algo assim, na época tinha uma sócia comigo, e ela foi assediada verbalmente na minha frente. Então existem muitas problemáticas e muitos obstáculos para serem vencidos quando você é uma mulher que empreende”. No entanto, ela afirma que existem lados muito positivos, como: inspirar outras mulheres, servir de exemplo e motivação, além da sua rede de apoio, que nesse ramo, são em sua maioria mulheres que ajudam e auxiliam, amigas que também empreendem ou não, mas que estão presentes na trajetória.
O nome da sua loja é Kkumchi (@kkumchi_ no instagram), que surge da junção de duas palavras no coreano: Kkum, que significa sonho e Kimchi, que é uma comida tradicional coreana, que hoje é um patrimônio imaterial da humanidade pela UNESCO, devido a sua importância e impacto cultural no país de origem. “Eu criei esse nome ao juntar essas duas palavras. Kkumchi significaria isso: O sonho do kimchi, o sonho de conhecer o país do kimchi, o sonho de construir a minha vida, a minha história, a minha família e conquistar aquilo que eu almejo através do kimchi”, Giovanna diz ainda que a Coreia do Sul se tornou para ela um país que a permite viver os seus sonhos.
O país não apresentou apenas a arte e o entretenimento, que a consolou em momentos difíceis e que permitiu que ela conhecesse pessoas maravilhosas que sob outras circunstâncias não teria conhecido, mas também significa a sua dedicação, seu trabalho, tempo e juventude. Através de um sonho, primeiramente seu, hoje se tornou possível para ela construir sua vida e sua família com esse trabalho que traz para perto uma cultura tão diferente da sua. “Me alegro em poder realizar meus sonhos graças ao meu empreendimento, promovendo a cultura e a culinária de um país que mudou e marcou a minha vida. É uma honra gerar esse pertencimento e alegria para os nossos clientes/chingus”, finalizou.
Produtos disponíveis para pedidos na loja Kkumchi | crédito: via instagram (@kkumchi_)
TRANSFORMAÇÃO ATRAVÉS DO AUTOCONHECIMENTO

Com mais de dez anos de atuação, Polyana Barbosa é psicóloga e consultora de carreiras. Acompanha mulheres em processos de autoconhecimento, transição de vida profissional e construção de caminhos alinhados ao propósito. A partir das escutas que realiza em monitorias, tem observado que empreender tem se tornado cada vez mais, além de uma escolha, uma alternativa, diante das brechas e barreiras do mercado tradicional.
“Nos últimos anos, temos observado um crescimento expressivo do empreendedorismo feminino em Maceió. Esse movimento está muito ligado ao desejo da mulher por mais autonomia e qualidade de vida. Muitas buscam mais tempo para estar com os filhos, cuidar da própria saúde e conciliar os diversos papéis que exercem. Paralelamente, elas também têm investido no próprio desenvolvimento, ampliando suas competências e percebendo que podem, sim, empreender com segurança”, destaca.
Polyana também aponta fatores locais que favorecem esse avanço, como a desburocratização do processo de abertura do MEI, a valorização de habilidades manuais e criativas e o crescimento da prestação de serviços especializados. “Hoje, o cenário está mais favorável. Não é mais necessário um grande investimento inicial. Mulheres com habilidades em áreas como culinária, artesanato ou costura têm se destacado, mas também há aquelas com formação acadêmica que estão oferecendo consultorias e serviços especializados”.
Mesmo assim, ela reforça que nem sempre essa é uma escolha plena, muitas vezes, o empreendedorismo surge da necessidade. “Na minha percepção, são as duas coisas. Por um lado, muitas escolhem empreender depois de anos no mercado formal, onde não se sentem valorizadas. Por outro lado, há mulheres que não encontram espaço: mães que precisam de mais flexibilidade, mulheres fora do mercado há algum tempo ou que não se encaixam no novo perfil profissional. A diferença está na motivação e no nível de preparo, quando a mulher se sente pronta, ela empreende por escolha. Quando não há oportunidades, empreender vira alternativa necessária”, explica a especialista.
Além das barreiras práticas, há um campo silencioso e decisivo: o emocional. E é nesse ponto que Polyana observa os maiores obstáculos. “Empreender exige coragem, e com ela surgem muitos desafios emocionais. Um dos principais é o medo de não dar conta, de falhar, de não conseguir equilibrar as demandas do negócio com as da vida pessoal. Muitas mulheres ainda carregam crenças limitantes sobre sucesso e merecimento, o que pode impactar diretamente a autoconfiança”.
Ela também destaca que a solidão da tomada de decisões e a cobrança por perfeição afetam diretamente o desempenho. “Tudo isso pode afetar a clareza, a produtividade, a relação com clientes. Por isso, é fundamental desenvolver inteligência emocional, autoconhecimento e uma rede de apoio sólida. As emoções não podem bloquear o crescimento do negócio”.
Outra pressão comum às empreendedoras é o acúmulo de papéis. “A mulher que empreende geralmente cuida da empresa, da casa, da família, de si, e ainda sente a pressão de estar bem em todos esses papéis. Essa sobrecarga pode gerar ansiedade, culpa constante, exaustão emocional e até burnout. É essencial trabalhar autocompaixão, gestão do tempo e delegação de tarefas. Entender que ela não precisa dar conta de tudo sozinha é libertador, e também estratégico para manter a saúde e o negócio sustentável”, elucida a psicóloga.
Para Polyana, o autoconhecimento é o eixo central da jornada empreendedora. “Quando a mulher entende suas forças, limitações, valores e propósito, ela faz escolhas mais assertivas e sustentáveis. Empreender é um ato de exposição e decisão constante. O autoconhecimento permite ajustar rotas com mais agilidade, sem se sentir perdida ou frustrada”.
Ela finaliza trazendo algumas estratégias fundamentais para quem está começando e sente medo de fracassar, “celebrar pequenas conquistas, estabelecer metas alcançáveis, cercar-se de outras empreendedoras, investir no próprio desenvolvimento, buscar apoio psicológico sempre que possível e lembrar constantemente do ‘porquê’ que te move. A autoestima e a coragem não nascem prontas, elas são fortalecidas no caminho, com prática, consciência e apoio”.









Comentários