top of page

Acesso à telas: o impacto do uso das tecnologias nas crianças e adolescentes em fase escolar

  • noticiasmare
  • 5 de mar.
  • 5 min de leitura

Uso excessivo das telas tem influenciado o desenvolvimento escolar dos estudantes


Por Eliana Farias e Sinara Beserra


Estudantes compartilham leitura no ambiente escolar / Créditos: Alexandre Teixeira (Ascom Seduc)
Estudantes compartilham leitura no ambiente escolar / Créditos: Alexandre Teixeira (Ascom Seduc)

A escola, um ambiente tão familiar para a sociedade, tem enfrentado grandes desafios nas últimas décadas. A rotina de crianças e adolescentes sempre esteve condicionada a essa realidade escolar, no entanto, o celular e outras tecnologias, têm roubado a atenção e o tempo desses estudantes, que precisam dividir a sua concentração entre a aprendizagem e as distrações que as telas oferecem constantemente.


No dia 13 de janeiro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o projeto de Lei 104/2015, que restringe o uso de aparelhos eletrônicos, sobretudo de telefones celulares, nas salas de aula de escolas públicas e privadas de todo o país. O projeto de Lei tem como respaldo estudos científicos e experiências em outros países que comprovam os malefícios do uso excessivo das telas, principalmente na saúde mental das crianças e adolescentes. Quando relacionada a fase escolar, o uso abusivo se torna mais desafiador, levando em conta as dificuldades de concentração e o prejuízo para o processo de ensino-aprendizagem em sala de aula.


Entre as crianças e adolescentes que utilizam a internet no Brasil, cerca de 83% têm acesso e perfis nas redes como WhatsApp, Instagram, Tiktok e Youtube, é o que revela a pesquisa realizada em 2024 pelo TIC Kids Online Brasil 2024. A pesquisa revela ainda que entre adolescentes de 15 a 17 anos esse percentual alcança os 99%.


O uso das telas no ambiente escolar


A respeito do sancionamento da lei, o estudante do terceiro ano do ensino médio, Artur Silva, de 16 anos, conta que nos anos escolares anteriores utilizava o celular na escola. “Usava bastante o celular durante as aulas, quando sentia um pouco de tédio ou quando era o momento de escrever, eu usava para ouvir música com fone de ouvido.” Também conta que nos momentos de aula vaga e intervalos era comum o uso, mas que esse ano escolar está um pouco diferente.


“Continuo levando o celular para a escola, mas agora está diferente. Não podemos usar como antes, então nos momentos livres nós temos que passar o tempo de outra forma, jogando com cartas, conversando e etc”. Ele relata que ainda não sentiu muita diferença no seu rendimento nas aulas, apenas o desconforto de não realizar um hábito que antes era tão comum, ele se diz também desfavorável com relação a lei. “Não concordo totalmente, acho que foi um pouco radical, principalmente para a nossa fase escolar (ensino médio). Sei que tem pessoas que estão viciadas, com o uso exagerado, e nesse caso precisa de intervenção, mas acredito que a lei generalizou todas as pessoas em uma mesma situação” relata o estudante.


Adriana Silva, dona de casa de 46 anos, é mãe do estudante Artur Silva e afirma que durante seus anos escolares era bem diferente. “No meu tempo de escola os estudantes aproveitavam mais o ambiente e os amigos, tínhamos mais espaço para a criatividade, com desenho e caligrafia. Hoje, com tudo informatizado, os adolescentes acabam tendo pouca prática nessas atividades”, afirmou. Ela acrescenta ainda que a lei veio em um bom momento para retomar essas atividades importantes.


Para Adriana, os culpados pelo uso abusivo das telas não são os adolescentes e crianças, e sim os adultos responsáveis. “Os culpados são aqueles que liberaram esse acesso exagerado, os pais e a própria escola. Desde quando as tecnologias começaram a se modernizar, os responsáveis deveriam estar mais atentos e ter mais controle da situação, como por exemplo, definir uma faixa etária de idade para permitir o uso dos aparelhos”, finaliza.


A saúde mental em foco


Esse impacto do uso excessivo de telas no desenvolvimento de crianças e adolescentes, não só tem sido uma preocupação para as escolas, professores e responsáveis, mas também uma preocupação crescente entre especialistas da área da saúde. Pesquisas indicam que o tempo prolongado diante de dispositivos eletrônicos pode prejudicar o desempenho escolar, afetar a saúde emocional e comprometer habilidades essenciais, como atenção, memória e concentração. A psicóloga clínica Andressa Lins, que atua na atenção primária em uma Unidade Básica de Saúde de Maceió (UBS), relata que essa é uma queixa comum entre os pacientes. Segundo ela, muitos pais têm procurado atendimento preocupados com mudanças de comportamento dos filhos.

“O uso excessivo das telas não apenas interfere na concentração e no aprendizado, mas também pode afetar a saúde mental. Tenho atendido um número crescente de adolescentes que relatam dificuldades para dormir, irritabilidade e sintomas de ansiedade. Os pais, por sua vez, frequentemente relatam que sentem dificuldade em estabelecer limites para o tempo de uso das tecnologias”, explica a especialista.

Diante desse cenário, Andressa destaca a importância do equilíbrio. “Não se trata de demonizar a tecnologia, mas sim de buscar um uso mais consciente”, orienta a psicóloga.


Construir bons hábitos pode ser a solução


O debate sobre os impactos das telas na infância e adolescência tem ganhado cada vez mais espaço entre profissionais de saúde e educadores. Para especialistas, o caminho está na conscientização e no estabelecimento de hábitos saudáveis desde cedo, garantindo um desenvolvimento mais equilibrado para as novas gerações.


Para a psicóloga Monizy Hellen Souza e Lima, pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental, Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista e Psicologia Familiar: Orientação e Intervenção Terapêutica, explica que os efeitos variam conforme a faixa etária, mas são sempre preocupantes.


“O tempo prolongado em dispositivos eletrônicos pode comprometer a atenção, a memória e a capacidade de concentração, dificultando o aprendizado. Nas crianças, o excesso de estímulos digitais pode gerar dificuldades na regulação emocional e reduzir o interesse por atividades essenciais ao desenvolvimento cognitivo, como a leitura, a escrita e a interação social”, afirma a psicóloga.



ree


Já na adolescência, segundo Monizy, o impacto pode ser ainda mais significativo, pois essa fase é fundamental para a construção da identidade e das relações interpessoais. “O uso descontrolado das telas pode levar ao isolamento, prejudicar habilidades sociais e até contribuir para quadros de ansiedade e depressão”, alerta.


Além dos impactos emocionais e cognitivos, o uso excessivo de dispositivos digitais também pode estar relacionado a dificuldades acadêmicas e problemas comportamentais. Por isso, Monizy reforça a importância de estabelecer limites e incentivar hábitos saudáveis.


“Uma estratégia importante para reduzir o tempo de tela é oferecer alternativas atrativas e saudáveis. Incentivar a prática de esportes, brincadeiras ao ar livre, leitura, jogos de tabuleiro e atividades artísticas, como desenho e música, pode ajudar a despertar o interesse por outras formas de entretenimento. Além disso, criar momentos de convivência familiar, como passeios, conversas e refeições sem o uso de eletrônicos, fortalece os vínculos e proporciona um ambiente mais equilibrado para o desenvolvimento das crianças e adolescentes”, sugere a psicóloga.

Para Monizy, o segredo está no equilíbrio. “A tecnologia deve ser usada com moderação para não comprometer o desenvolvimento e a saúde mental das novas gerações. O papel dos pais é essencial para orientar e estimular hábitos mais saudáveis, garantindo que a infância e a adolescência sejam vividas de forma significativa”, conclui.

Comentários


bottom of page